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Sem meias verdades

Bahia registra alta taxa de desistência no ensino superior

A Bahia figura entre os estados com as maiores taxas de desistência no ensino superior, segundo o Mapa do Ensino Superior do Brasil, divulgado recentemente pelo Ministério da Educação (MEC). Com uma taxa alarmante de 57,9%, o estado ocupa a quinta posição no ranking nacional de evasão acadêmica. Além disso, a taxa de conclusão dos cursos universitários na Bahia é de apenas 18,3%, uma das menores do Brasil.

O cenário de abandono no ensino superior também é preocupante em outros estados, como Amapá, Mato Grosso do Sul, Roraima e São Paulo, que apresentam taxas de desistência ainda mais altas. O levantamento do MEC destaca que, apesar do aumento no número de matriculados no ensino superior, as dificuldades de acesso e permanência dos estudantes permanecem. A elevada taxa de desistência reflete a falta de políticas públicas eficazes para apoiar a continuidade dos estudos.

Para Roberto Sidnei Macedo, professor titular da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia (Faced/Ufba), a baixa taxa de conclusão está diretamente relacionada ao abandono dos cursos. Macedo aponta três fatores principais que contribuem para essa realidade. O primeiro é a falta de relevância do currículo acadêmico em relação ao mercado de trabalho.

“Os currículos universitários precisam ser mais alinhados com as exigências do mercado de trabalho e com as demandas da sociedade contemporânea. A universidade deve oferecer componentes curriculares que preparem os alunos para o que o mercado exige, tornando o curso mais atrativo e motivador para a continuidade dos estudos”, afirma o professor.

O segundo fator é a dificuldade de garantir condições adequadas para a permanência dos estudantes. Nas universidades públicas, os programas de apoio à permanência são limitados, e nas instituições privadas, muitas vezes inexistem. Macedo defende a ampliação desses programas, com foco naqueles que enfrentam dificuldades financeiras e que carecem de acesso a tecnologias essenciais para o aprendizado.

Karine Lima, 23 anos, desistiu do curso de Língua Estrangeira na Ufba após três semestres devido à dificuldade de conciliar o estudo com sua rotina. “Moro em Camaçari, e o transporte era um grande problema. Além disso, não me identifiquei com o conteúdo técnico do curso, que não me cativou”, conta Karine. Porém, ao conseguir uma bolsa do Prouni, teve a oportunidade de realizar o sonho de cursar Psicologia, agora em uma faculdade mais próxima de sua casa.

Victor Macedo, 24 anos, também enfrentou desafios para concluir o curso de Análise de Sistemas no Instituto Federal da Bahia (Ifba). A incompatibilidade de horários, a modalidade presencial e os altos custos com transporte foram fatores determinantes para sua desistência. “Eu estava bem no mercado de trabalho e não conseguia conciliar o curso com minha rotina. Além disso, os custos com transporte eram mais altos que a mensalidade de uma universidade privada”, explica Victor.

Após abandonar o Ifba, Victor decidiu retomar seus estudos em uma universidade com ensino a distância, onde encontra mais flexibilidade e uma grade curricular mais atualizada. “Agora consigo estudar de onde quiser, com custos mais acessíveis e com mais qualidade no ensino. Sinto-me realizado”, conclui.

Esses relatos ilustram os desafios enfrentados pelos estudantes no ensino superior, onde a falta de infraestrutura, programas de apoio adequados e a desconexão com o mercado de trabalho contribuem para as altas taxas de desistência.

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