O Campeonato Brasileiro masculino, vencido pelo Sesi-SP na última sexta-feira (3), encerrou a temporada 2021 do vôlei sentado no país. As atenções, agora, voltam-se a 2022, primeiro ano completo do ciclo paralímpico de Paris (França), em que as seleções masculina e feminina terão pela frente a Copa do Mundo de Hangzhou (China), entre 18 e 23 de maio, além do torneio classificatório para o Mundial de 2023, isso se a pandemia do novo coronavírus (covid-19) permitir. No cenário nacional, a previsão é de mais dois eventos: uma competição aberta a equipes do exterior e uma Copa do Brasil, reunindo os dois melhores times de cada estado.
Na Paralimpíada de Tóquio (Japão), o Brasil repetiu o resultado de cinco anos antes, no Rio de Janeiro. O time masculino ficou em quarto e as mulheres conquistaram novamente a medalha de bronze, ao superarem o Canadá na disputa pela terceira posição.
“[O bronze] foi o resultado possível. Poderia ter sido melhor, mas elas [Estados Unidos, que bateu o Brasil na semifinal] jogaram melhor e tiveram oportunidades que não tivemos. Elas e as equipes da Europa não pararam de treinar, fizeram amistosos, enquanto o time brasileiro não foi convidado, por conta da pandemia”, analisou a capitã Nathalie Filomena à Agência Brasil.
“Todo mundo teve desafios, mas, perto de Tóquio, a gente viu que outras seleções puderam jogar mais. Algumas participaram de um campeonato na Holanda. A pandemia atrapalhou um pouco o que estávamos planejando, que era pegar ritmo. Não é desculpa, os EUA têm todos os méritos, mas acho que, pelo que passamos, conquistamos um resultado incrível”, completou Luiza Fiorese, também medalhista de bronze no Japão.
Após os Jogos, houve uma troca na comissão masculina, com a saída de Célio César Mediato, atual treinador do Sesi, e o retorno de Fernando Guimarães, irmão do técnico tricampeão olímpico José Roberto Guimarães, que dirigiu a equipe na Rio 2016. No feminino, a Confederação Brasileira de Voleibol para Deficientes (CBVD) quer manter José Agtônio Guedes. O comandante, que está à frente da seleção desde o ciclo de 2016, foi recentemente empossado secretário nacional do Paradesporto do Ministério da Cidadania.
“O Fernando está no Paulistano/Instituto Ética, saiu [da seleção] após o ciclo de 2016. Entendíamos na época que deveríamos mudar, mas é um dos melhores técnicos do Brasil. [Sobre Guedes] estamos aguardando resposta. Ele tem essa demanda importante, grandiosa, mas não podemos perder um treinador como ele. Passamos três dias em Brasília conversando. Ele cresceu vendo essas meninas e faz parte dessa história. Tenho certeza de que dará certo e ele continuará”, afirmou o presidente da CBVD, Ângelo Alves Neto.
A meta para 2024 é a conquista do inédito ouro paralímpico, entre homens e mulheres. O discurso otimista ganhou força após o anúncio de que as seleções serão patrocinadas pela Audi, multinacional alemã do ramo automobilístico, durante o ciclo de Paris. Segundo Neto, a parceria, oficializada na sexta-feira passada, permitirá a realização de períodos mais longos de treinamento às equipes nacionais, reforço às comissões técnicas e a participação em mais eventos.
“Em Tóquio, como houve redução nas comissões [devido à pandemia], tivemos treinador, assistente, fisioterapeuta e estatístico [nas delegações]. Vamos buscar profissionais da área esportiva, como psicólogo, nutricionista, fisiologista e preparador físico. Também estaremos em mais campeonatos internacionais, para os atletas vivenciarem jogos contra o povo que vamos encontrar em Paris. Já teremos um campeonato a mais [em 2022], que é o Sarajevo Open [Bósnia], masculino e feminino”, disse o dirigente.
A parceria chama atenção por ainda ser pouco comum o apoio da iniciativa privada ao paradesporto, apesar do aumento de visibilidade. A petroquímica Braskem, por exemplo, atua junto à seleção de atletismo paralímpico. A Toyota, multinacional automobilística japonesa, patrocina o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB). Empresas como Nissan (também automobilismo) e Ajinomoto (alimentício), por sua vez, dão suporte a atletas específicos, de diferentes modalidades. Ainda assim, o setor público, por meio da Lei Agnelo/Piva (que destina recursos das loterias ao esporte paralímpico) ou programas como o Bolsa Atleta, é responsável pela esmagadora maioria do incentivo.
“Para além do aporte financeiro, o patrocínio traz nome, acredita na gente. Isso infla a vontade de se querer mais, de uma pessoa que chega e vê que essa equipe tem potencial. Muitas meninas chegam [ao esporte], mas nem todas ficam. Queremos fazer elas ficarem”, avaliou Luiza, que substituiu parte dos ossos da perna esquerda por uma prótese interna, devido a um osteossarcoma (câncer ósseo), e entrou para o vôlei sentado em 2019.
“Quando comecei [no vôlei sentado], em 2006, a gente não tinha nada, investimento, patrocínio. Sei o que cada menina sofreu. Se já era difícil e a gente conseguiu [conquistas], embora ainda não o que queremos, que é ouvir o hino do Brasil no topo do pódio, com mais treino e investimento podemos chegar em lugares mais altos. O sonho da medalha de ouro, hoje, é possível”, finalizou Nathalie, que nasceu com plexo braquial (rede de nervos entre a coluna cervical e o ombro esquerdo), além de uma paralisia branda no mesmo lado, e disputou três Paralimpíadas na carreira.
Agência Brasil