O Ministério Público da Bahia (MP-BA) iniciou uma investigação nesta segunda-feira (24) sobre a suspeita de transfobia relacionada ao afoxé Filhos de Gandhy, em Salvador. O caso ganhou repercussão após o bloco anunciar que homens trans estariam vetados de participar do tradicional desfile de Carnaval, citando um artigo de seu estatuto social.
De acordo com o comunicado do afoxé, apenas pessoas do “sexo masculino cisgênero” poderiam se associar ao grupo, o que gerou críticas nas redes sociais e mobilizou entidades de direitos humanos. O MP-BA enviou um ofício ao grupo solicitando esclarecimentos sobre a decisão e afirmou que aguarda um retorno para adotar as medidas cabíveis.
A Defensoria Pública da Bahia também se manifestou sobre o episódio, condenando a ação e classificando a decisão do bloco como uma incitação à discriminação. Segundo a Defensoria, a prática configura transfobia, sujeitando os responsáveis às penalidades previstas pela lei que equipara crimes de transfobia ao racismo.
Após a repercussão, o Filhos de Gandhy ajustou sua comunicação, retirando a expressão “cisgênero” do aviso. O grupo também anunciou que realizará uma assembleia geral para discutir possíveis alterações em seu estatuto, refletindo sobre a inclusão e a tradição do bloco.
Em entrevista à TV Bahia, Keila Simpson, secretária da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), demonstrou surpresa e repúdio pela atitude do afoxé, considerando contraditória a postura de um grupo que historicamente valoriza a inclusão, especialmente em relação ao combate ao racismo estrutural.
O afoxé Filhos de Gandhy, que celebra 76 anos de história, mantém uma forte tradição cultural e religiosa, com desfile marcado para os dias 2, 3 e 4 de março nos circuitos Osmar (Campo Grande) e Dodô (Barra-Ondina). A agremiação, composta por cerca de quatro mil homens, já homenageou nomes como Caetano Veloso e Gilberto Gil em edições anteriores, mas agora enfrenta um debate sobre sua postura inclusiva no cenário atual.

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